Parecem, a primeira vista, que para defender e conservar a mediunidade deveríamos desenvolvê-la na meninice. A experiência e os guias ensinam o contrário, pois o desenvolvimento em tenra idade perturba e compromete o organismo em constituição. As crianças, antes dos 12 anos, não devem ser admitidas nas sessões que não sejam de preces, ou doutrinação, pois nas outras, basta o reflexo dos trabalhos pra lhes abrir a mediunidade, e, portanto, prejudicá-las.
Entre os médiuns, os mais conhecidos e procurados são, naturalmente, os curadores, os receitistas (Médiuns receitistas: têm a especialidade de servirem mais facilmente de intérpretes aos Espíritos para as prescrições médicas). Importa não os confundir com os médiuns curadores, visto que, absolutamente, não fazem mais do que transmitir o pensamento do Espírito, sem exercerem por si mesmos influência alguma). A medicina os combatem e a justiça os perseguem. Sem examinar, nestes escritos, os direitos daquelas, e as razões desta, direi, apenas que a mediunidade curativa se exerce em nome da caridade e não pode ter por objetivo negá-la aos médicos, tirando-lhes, como concorrente gratuita, os recursos de subsistência.
Logicamente, dentro da doutrina, deveriam recorrer aos médiuns curadores, em primeiro lugar, os pobres destituídos de meios para remunerar o clínico profissional; depois os enfermos julgados incuráveis, e, por fim, os crentes cuja fé exigisse o tratamento espiritual. Sob esse critério, a caridade continuaria a ser feita, conforme as necessidades reais dos doentes; não seria o médico atingido nos seus privilégios, nem a ciência perderia o estimulo pecuniário ao progresso.
Os médiuns curadores receitam por intuição, audição, incorporação, ou mecanicamente. Os intuitivos, em face do doente ou do seu nome, recebem do espírito que o examina a indicação telepática do medicamento a ser aplicado; os outros a ouvem. Nos médiuns de incorporação é o próprio espírito quem diretamente escreve ou dita a receita ao consulente. Nos mecânicos é ainda o espírito que lhes toma e domina o braço para escrever.
Aqueles que muitas vezes se enganaram em diagnósticos e tratamentos não admitem equívocos em receitas mediúnicas, e, geralmente, não os há nessas prescrições, pois só alcançam permissão para o exercício da medicina os espíritos em condições de não prejudicar os enfermos com erros e deficiências. Os receitistas do espaço muitas vezes são médicos que na vida terrena restringiram a clínica, e, por consequência, aos benefícios provenientes dela.
A perseguição oficial contra o receituário mediúnico produziu um efeito imprevisto: o desenvolvimento, sem possibilidade de repressão, da terapêutica fluídica, ministrada, se assim se pode dizer, pela ação direta das entidades espirituais sobre os organismos enfermos.
É grande, elevadíssimo, o numero de médicos que professam o espiritismo. Muitos são médiuns e receitistas; os outros muitas vezes recorrem àqueles medianeiros, considerando-os consultores. Entre os médicos não espíritas muitos admitem e até constatam as curas operadas mediunicamente. Alguns frequentam os centros espíritas no desejo de estudar os processos com que se restauram pessoas por eles reputadas incuráveis.
A um desses clínicos acompanhei, por algum tempo. Curioso, avidamente observando os trabalhos dizia, em face dos resultados obtidos:
- Eu acho isso tudo absurdo, mas devo estar em erro, porque no fim sai certo.
No terceiro mês de suas investigações, descobriu que tinha qualidades de médium, e quis aproveitá-las, na esperança de facilitar as suas pesquisas. Começou a receber espíritos. Eu marcava, no relógio, a hora de sua incorporação e a da desincorporação. O maior período daquela dói de uma hora e vinte minutos. Ao reintegrar-se em sua personalidade, perguntou-me:
- Que fiz nessa hora? Não me lembro. Parece-me que estive dormindo, mas estou cansado. O meu protetor trabalhou?
- Trabalhou e brilhantemente.
Sério, o médico considerou:
- Pode ser que ele faça maravilhas, mas desde com o meu corpo, e sem o meu conhecimento, não me serve a companhia:
Acrescentou:
- Os espíritos são egoístas, não revelam o que sabem. Aqui não se aprende nada. Deixo a Tenda e deixo o espiritismo.
E confessou num sorriso:
-Estou quase arrependido de ter emprestado o meu corpo. Receio que esse ilustre defunto possa encarapitar-se no meu lombo, sem o meu consentimento, e faça brilharetos que me comprometam.
Foi dissipado esse receio.
Extraido do livro o Espiritismo, a magia e as sete linhas de Umbanda, cap 2 - Leal Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários serão bem vindos, assuntos imorais serão banidos.